terça-feira, 9 de novembro de 2010

Henrique Neto falou sobre "A crise da economia nacional e internacional" - In www.rotary.pt


Henrique Neto, fundador da Iberomoldes
Portugal deve «recuperar a educação pela qualidade e exigência»

Henrique Neto, fundador da Iberomoldes, e ex-deputado na Assembleia da República pelo Partido Socialista na legislatura de 1995-1999, foi o orador convidado do RC Marinha Grande na Assembleia de Representantes que se realizou, no passado fim-de-semana, em S. Pedro de Muel.

A apresentação do conferencista esteve a cargo de Jorge Martins do RC Marinha Grande, que traçou o seu perfil familiar e profissional.

O gestor que abordou o tema "A crise da economia nacional e internacional" apresentou um retrato negro da actual situação político/económica que se vive no mundo e, em particular em Portugal.

Para enquadrar o tema viajou no tempo e regressou aos idos de 1970/1980 indo aí buscar as «causas longínquas da crise internacional», altura em que chegaram aos «Estados Unidos os primeiros dirigentes empresariais especialistas de finanças». Na sequência do tema apresentou as três fases que considera estarem na base da chamada «crise». A primeira fase é a das fusões e aquisições; a segunda fase é dominada pelas deslocalizações das empresas para mercados onde a mão-de-obra é mais barata. A terceira fase é constituída pelo «desvario dos produtos tóxicos».

Centrou depois a atenção no que chama os «desequilíbrios globais» resultantes destes factores que começam quando a economia clássica deixa de responder. Acrescenta-se o factor China e Índia e a criação de um novo modelo económico global em países com um «stock inesgotável de mão-de-obra a baixo custo», factor que causa um «desequilíbrio permanente entre a oferta e a procura» e que coloca «o modelo social europeu em perigo».

Os factores nacionais que no entender de Henrique Neto de algum modo contribuíram para acentuar as dificuldades económicas têm a ver com a «cristalização do modelo económico herdado da EFTA – European Free Trade Association (Associação Europeia de Livre Comércio); o fracasso, em Portugal, do ensino de massas; a economia dual e a aposta errada nos bens não transaccionáveis; a promiscuidade entre algumas grandes empresas e o poder político e a falta de continuidade das políticas e das leis». Apontou ainda como factores limitativos do desenvolvimento económico a «pobreza e o envelhecimento» o «Estado gastador e omnipotente e a ausência de uma estratégia nacional».

A estes factores associa-se ainda, nos últimos anos uma «política mediática do engano e da mentira; o domínio dos interesses e da corrupção; obras públicas avulsas em vez de desenvolvimento económico sustentável; o desastre das Parcerias Público Privadas (PPP)» e ainda o endividamento e a dependência do exterior.

O empresário, no entanto, deixou alertas, sugestões e avançou com possíveis soluções que conjugadas poderão ajudar a minimizar a situação que tem como condição primeira «compreender as mudanças em curso no mundo». Depois há que «recuperar a educação pela qualidade e a exigência, com a prioridade às creches e ao ensino pré-escolar» e onde não falte uma alimentação cuidada e adequada rede de transportes. A estratégia euro-atlântica com «prioridade absoluta aos bens transaccionáveis e à exportação. Promover a concorrência nos sectores de bens não transaccionáveis e abertura de linhas de crédito de curto praza para apoiar o fabrico de encomendas firmes e credíveis destinadas à exportação».

Há ainda que estruturar uma «logística com prioridade às mercadorias, através de um porto de 'transhipment' e ao transporte ferroviário de mercadorias para a Europa em bitola europeia, ou, em alternativa, o 'eurofreightrain'».

Henrique Neto sublinhou ainda a necessidade de se encetar uma «campanha nacional para a atracção e o desenvolvimento de empresas nacionais e internacionais integradoras, para equilibrar o domínio na economia portuguesa do subcontrato. Modernizar o sector das pescas com prioridade à pesca artesanal e aplicação tecnológica, com uma atenção particular ao marketing e comercialização». É ainda imperativo «potenciar a agricultura através de produtos valorizáveis nos mercados internacionais» e dar a «prioridade à organização dos circuitos de comercialização». Importante para o gestor é ainda a «formação acelerada de mestres para a indústria do futuro, para dar sentido à formação profissional que se faz em Portugal. Colocar os empresários portugueses a falarem uns com os outros. Dotar as universidades de vendedores de tecnologia junto das empresas. Moralizar a actividade política e profissionalizar a administração pública».

In: www.rotary.pt